Para a senadora, abandonar a regra não faz sentido e R$ 543 “é o mínimo que tem que se pagar ao trabalhador”. Segundo Gleisi, o que está em discussão é apenas o arredondamento. “Tenho absoluta certeza e convicção de que o governo aceitará se o Congresso corrigir para R$ 543”, disse, lembrando que não fala pela bancada petista.
Sobre a disposição do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de se opor a qualquer valor diferente de R$ 540, Gleisi diz que é preciso haver conversa. Além disso, diz que é normal o ministro adotar posições rígidas devido à responsabilidade que tem em “equilibrar as contas públicas”.
A senadora falou com a reportagem após deixar a reunião da bancada do PT que definiu Humberto Costa (PT-PE) como novo líder do partido no Senado. De acordo com ela, o mínimo não foi debatido no encontro, mas será tema da próxima reunião da bancada, agendada para 27 de janeiro.
Casada com o ministro das Comunicações e ex-ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, Gleisi Hoffmann foi eleita, em 2010, para seu primeiro mandato no Senado. Em 2002, participou da equipe de transição do governo FHC para o governo Lula, junto com Dilma Rousseff. Depois disso, foi diretora financeira de Itaipu. Também foi presidente do PT no Paraná.
Veja a íntegra da entrevista:
UOL Notícias: A senhora defende um mínimo maior que o proposto pelo governo?
Gleisi Hoffmann: Em relação ao mínimo, nós temos que manter a regra. Que foi a regra que trouxe a correção do salário mínimo em quase 60% de aumento real, no governo do presidente Lula. Agora, é claro, a regra leva o mínimo para R$ 543. Acho que há possibilidade de a gente conversar com o governo e ver, dentro do Orçamento, se temos condições de arredondar, por exemplo, para R$ 545. Ou até subir um pouco mais, uns R$ 550, para mediar com o movimento sindical. Mais do que isso, já não cabe nas contas públicas, não tem condições. O que é importante e que nós temos visão, pelo menos na maioria, é que a regra deve ser mantida. Se a regra deu R$ 543, esse é o mínimo que tem que se pagar ao trabalhador.
UOL Notícias: Então há disposição dentro do PT de não aceitar os R$ 540?
Hoffmann: Não é de não aceitar. O governo tem uma regra, que tratou junto com o Congresso Nacional. Não tem lógica o governo se opor a isso. Não quer dizer que o governo tenha que mandar outra medida provisória, colocando R$ 543. Tenho absoluta certeza e convicção de que o governo aceitará se o Congresso corrigir [o salário mínimo] para R$ 543, sem nenhuma oposição. Porque isso é uma regra. O que cabe a nós é perguntar ao governo, e ter uma conversa realmente com muita responsabilidade, se poderia ser arredondado para R$ 545 e negociado com os movimentos sociais para talvez chegar a um teto de R$ 550, dentro dessa realidade. Mas é o máximo. O que não dá é para fazer uma discussão política sobre o salário mínimo. Tem que fazer uma discussão nos pressupostos da economia brasileira.
UOL Notícias: A bancada do PT no Senado vai discutir o salário mínimo em sua próxima reunião, no dia 27 de janeiro?
Hoffmann: Sim. No dia 27. Nós estamos convidando também pessoas do governo para estarem aqui. É importante, nós queremos ter um posicionamento de forma alinhada, conversada, negociada com o governo.
UOL Notícias: E a declaração do ministro Mantega de que qualquer valor diferente de R$ 540 seria vetado?
Hoffmann: Bom, a presidente já se manifestou. Na realidade é isso: tudo que nós estamos vivendo, tem possibilidade de ser conversado. Principalmente com o Congresso Nacional, que é a casa da conversa, é o parlamento, é onde se “parla”. Se não conversar, não tem objetivo de ser. Então, acho que é importante conversar. O ministro Guido, e eu entendo a posição dele, e defendo muito as posições da Fazenda, ele tem uma grande responsabilidade, que é administrar um orçamento que está tendo dificuldades, com déficit. Quer dizer, precisa equilibrar as contas públicas, segurar o processo inflacionário, não deixar o dólar descambar como está acontecendo. Então é obvio que, quando ele se vê à frente de qualquer assunto, qualquer discussão, ele tem uma reação muito mais dura, para tentar resolver os problemas. E eu acho que ele tem razão, como ministro da Fazenda, ele tem que fazer isso.
Nessa questão do salário mínimo, a mediação tem que ser no limite daquilo que é possível do ponto de vista econômico. Primeiro, seguir a regra: R$ 543. Não tem justificativa o governo dizer que não vai a R$ 543, porque isso é a regra. Foi assim com os outros salários e vai ser assim nesse e vai ser pro próximo. O que nós queremos conversar com o governo e com o movimento social é, se dentro desse contexto, há condições de um arredondamento, para facilitar, inclusive, do ponto de vista do pagamento pelas empresas. Mas isso é uma conversa que vamos fazer com o governo.
UOL Notícias: Quantos senadores da bancada dividem essa opinião, de que o governo tem que respeitar a regra, e falam isso publicamente?
Hoffmann: Na realidade nós não discutimos [o aumento do salário mínimo]. Disse para você que vamos discutir no dia 27. Essa é uma posição pessoal minha. Acredito que a maioria vá concordar, porque votou isso. Mas é uma posição pessoal minha, não posso falar pela bancada.
Fonte: UOL Notícias, por Fábio Brandt, de Brasília
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