sexta-feira, 4 de abril de 2014

Estatística do HMCC confirma: a maioria dos abusos infantis acontece dentro de casa

Reunião da Rede Proteger, nessa quinta-feira (3), em Foz.
  
O abuso e a exploração sexual cometidas contra crianças e adolescentes em Foz do Iguaçu e nos municípios que formam a 9ª Regional de Saúde não estão, na maioria das vezes, nas esquinas ou nas ruas. O perigo maior está dentro de casa mesmo. É o que demonstra o histórico de atendimentos realizados em 2013 pela equipe do Hospital Ministro Costa Cavalcanti (HMCC), apresentado nessa quinta-feira (3), durante reunião da Rede Proteger, na Escola de Leigos, em Foz.
  
Segundo o levantamento, no ano passado, o hospital atendeu 196 meninos e meninas vítimas de violência sexual. Em 80% dos casos o abuso foi cometido por parentes ou pessoas conhecidas da família. De acordo com o relatório, 85% dos exames foram realizados em crianças de zero a 15 anos. Esses dados seguem a tendência nacional, que aponta que, em 80% dos casos, a violência é cometida por padrasto, pais, tios, primos ou até avôs.
   
Segundo Claudinei Batista de Souza, gerente da Divisão de Urgência e Emergência do HMCC, outro dado que reforça a ideia da violência residencial é o prazo para fazer os exames. Em 75% dos casos há a espera mais de três dias para procurar a unidade de saúde ou as delegacias especializadas. “A demora em buscar ajuda ocorre pelo medo e o desconforto de admitir que um parente tenha cometido o crime, ou pelo próprio desconhecimento.”
      
Para a psicóloga do hospital, Chaiany Colpo Spricigo, o maior número de ocorrências dentro de casa acontece em função da facilidade e aproximação com a criança. “A relação de confiança entre o agressor e a vítima faz com que a criança demore a perceber o abuso. Algumas chegam e já contam quem o agrediu, mas outras só fazem isso somente depois de muita conversa”, explicou. A maioria dos casos, segundo ela, chega ao hospital por encaminhamento das delegacias. “Mas há muitas que procuram o hospital antes de fazer a denúncia.”
  
Educação
    
Maria Emília Medeiros (AS.GB), da Equipe do Programa de Proteção à Criança e ao Adolescente (PPCA), da Itaipu, disse que a apresentação feita pelo Costa Cavalcanti à Rede Proteger teve como objetivo relatar o trabalho desenvolvido pela unidade. “Até 2003, os exames eram realizados no Instituto Médico Legal. Mas há dez anos há uma equipe multidisciplinar especializada para atender meninos e meninas.”
   
Para Maria Emília, esses dados demonstram também a urgência de trabalhar o tema na educação das crianças. “Precisamos falar do assunto com elas. Só assim saberão a diferença entre um carinho e um abuso.”
 
Dados apontam que as mais visadas pelos agressores geralmente têm pouca idade, pois ainda não conseguem se expressar direito, o que dificulta o relato. Para isso, os pais precisam ficar atentos às alterações no comportamento dos filhos. Dificuldades de aprendizado, fugas de casa, fobias, pesadelos, rituais compulsivos, comportamentos autodestrutivos, isolamento social, comportamento excessivamente sexualizado, aversão ou desconfiança de adultos, instabilidade emocional e queixas psicossomáticas são sintomas da agressão.
 
Crime
 
A pessoa que comete abuso contra crianças e adolescentes é indiciada por estupro e atentado violento ao pudor. A pena para o crime varia de seis a dez anos de reclusão, dependendo das circunstâncias do incidente.

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