quinta-feira, 12 de julho de 2012

Mulheres: tá faltando networking!

Se a propaganda, como diz o velho clichê da publicidade, é alma do negócio, as mulheres estão explorando muito pouco essa ferramenta de autopromoção. E quando o tema é networking, então, nem se fala, não tem como negar, os homens são grandes professores. Por isso, está mais do que na hora de aprender com eles a fazer e usar essa rede de contatos em causa própria.

A dica é da CEO da First Data Brasil, Maria Fernanda Teixeira, que, nesta quarta-feira (11), a convite da diretora financeira executiva de Itaipu, Margaret Groff, ministrou uma palestra, no Espaço Florestan Fernandes, no PTI.

 Maria Teixeira: "A maioria das empresas não define metas que incluem a mulher nos postos de decisões".

O bate-papo foi com um grupo de integrantes do Espaço das Mulheres Executivas de Foz do Iguaçu, da qual Margaret faz parte. A palestra marca as comemorações dos 25 anos de carreira de Margaret Groff na Itaipu.

Groff é a primeira mulher do quadro próprio a ocupar o cargo de diretora na empresa. E tem o maior orgulho disso. “Nada veio por acaso. Tive que me esforçar muito para chegar aqui. Foi tudo com muita luta, esforço, trabalho e competência”, observou a executiva durante as boas-vindas à palestrante.


Margaret Groff falou sobre a sua trajetória na empresa: "Tive que me esforçar muito para chegar aqui".

E é exatamente por saber a responsabilidade e a importância de disseminar uma cultura de modelos femininos bem-sucedidos de liderança, que a diretora vem assumindo várias frentes e ações para a promoção da equidade de gênero na empresa. Uma delas é promover encontros de mulheres em cargos de liderança com executivas de renome.

Maria Fernanda Teixeira tem uma carreira profissional de fazer inveja a muitos homens de negócio. Ela faz parte de um seleto grupo de mulheres que ascenderam em todas as empresas por onde passou. Recentemente ocupou o cargo de presidente para a América Latina do grupo ICT, fornecedor global de gestão de clientes e soluções terceirizadas de processos empresariais.

Como mais de 30 anos de experiência e vasto conhecimento do setor de serviços financeiros no comércio, um dia, durante um curso e outro de especialização, e já tendo assumido a vice-presidência de várias multinacionais, perguntou-se: “por que não ser a presidente da empresa na qual estava trabalhando?

Com a decisão tomada e foco no objetivo, chegou ao topo da carreira, assumiu a presidência como almejava, mas sem para isso abrir mão do que havia traçado para sua vida, ainda quando menina. A meta? Ser feliz.

Casou e descasou duas vezes e hoje está namorando. Bem resolvida, diz que sempre conseguiu equilibrar vida pessoal com profissional. Outra preocupação de Maria Fernanda é o legado que vai deixar para as futuras gerações. “O meu é promover melhores condições e acelerar a participação feminina em todos os setores da sociedade, mesmos direitos, mesmos salários, mesmos cargos, mesmo respeito”.

“E você, já parou para pensar nisso?”, provocou a plateia. Entre o público, mulheres que ocupam papel de destaque no mercado de trabalho, como é o caso de Maria Gorete, dona de uma imobiliária de Foz do Iguaçu. Gorete disse que sua maior preocupação é desenvolver pessoas. “Faço isso em casa; faço isso no trabalho. Gosto de dar oportunidade para que as pessoas desenvolvam suas habilidades”.

Liderança

Segundo Maria Fernanda, se a mulher aproveitasse no mercado de trabalho o grande potencial de liderança que tem em casa, como na hora de escolher o que consumir, por exemplo, o universo masculino daria um nó. “São as mulheres, na maioria dos lares brasileiros, que determinam ou escolhem o que comprar; do alimento até o objeto de decoração. Quase tudo passa pelo crivo da mulher. Senão, é encrenca na certa”.

Outro ponto que poderia ser usado a favor das mulheres, mas pouco é considerado, segundo a CEO, é o seu poder de dar continuidade à espécie. Maria Fernanda faz uma conexão direta da mulher com a sustentabilidade das empresas.

Se as empresas estão trabalhando para ter durabilidade, então elas têm de se preocupar com a subsistência. “As mulheres são as grandes responsáveis pela continuidade do planeta. Precisam estar à frente desse processo”.
Na apresentação da CEO, vantagens comparativas das mulheres: intuição e visão de longo prazo.

Também pesam a favor da mulher [pela função biológica de ser progenitora] a visão de longo prazo [por amamentar e cuidar da cria], a intuição, a empatia e a compaixão.

Depois da palestra, acompanhada da diretora, a CEO fez uma visita às instalações do PTI. Na parte da tarde, Maria Fernanda visitou a Itaipu. Maria Teixeira disse ter ficada encantada com a usina, com a infraestrutura, com os projetos desenvolvidos pela empresa e, principalmente, com as pessoas.

Equidade de gênero

Para aproveitar bem a visita de Maria Fernanda, a equipe do JIE/JIM fez uma entrevista com a executiva. O bate-papo dá um panorama geral sobre a equidade de gênero dos países de primeiro mundo e na América Latina.

Na sua opinião, qual a diferença da equidade de gênero nos países de 1º mundo, sobretudo nos Estados Unidos, e na América Latina, como o Brasil?

Os países mais desenvolvidos já têm uma cultura diferente da nossa. Não é uma cultura tão machista como na América Latina, onde o processo de equidade de sexo tem demorado mais. Entretanto, cada uma de nós pode e deve fazer com a ascensão da mulher, nos mais diversos segmentos da sociedade, seja acelerada.

Até que ponto a afirmação e a visibilidade da mulher são componentes necessários para promover a igualdade de direitos?

É muito importante, pois 80% de todos os cargos de chefia no Brasil são sugeridos e preenchidos por homens. Acontece porque os homens são amigos de homens, enquanto a mulher não faz muito bem o networking. Ela não se mostra. Quando vai se decidir por um cargo, as sugestões são sempre de amigos. Por esta razão, eles acabam sendo lembrados. Diante disso, acredito que exposição da mulher é muito importante.

Maria Teixeira: os homens não percebem que 80% do consumo é decidido pelas mulheres.

Muitas vezes, as mulheres vão para o mercado de trabalho e acabam adotando as mesmas posturas dos homens. Isso é um contra-senso?

Não é um contra-senso. Infelizmente, ainda, em alguns ambientes a mulher precisa se colocar e ter atitudes masculinizadas, o que é uma pena. No meu caso, algumas vezes, precisei bater na mesa para que os homens me escutassem. No passado esse comportamento era mais forte. As executivas se vestiam de forma mais sóbria. Hoje, elas se vestem de maneira mais feminina, utilizando jóias, maquiagem e roupas mais leves. Apesar das mudanças, às vezes, a mulher precisa se colocar de forma mais dura.

A mulher tem um poder na casa. Se levasse para a empresa, o resultado seria mais satisfatório?

O nosso desafio é mostrar isso às empresas. Os homens que gerenciam as empresas não conseguiram perceber que, se 80% do consumo é decidido por mulher, precisam ter mulher no staff para ajudar a elaborar estratégias melhores. Que ajude a definir um produto melhor, pois são elas que decidirão na hora da compra. É comprovado que as empresas com mulheres na gestão, a lucratividade é melhor.

Qual a sua opinião sobre o projeto de Equidade de Gênero da Itaipu?

É um projeto maravilhoso, pois não cuida apenas para que suas empregadas ocupem cargos estratégicos, mas se preocupa com a comunidade vizinha à usina. É preciso olhar para o interno, mas também o externo, porque sustentabilidade só acontece quando o todo ocorre.

Durante um tempo falava-se do “Clube da Luluzinha”, de tanto falar em ações afirmativas das mulheres. Qual a dosagem para que a equidade seja inserida não como imposição? Você conhece algum exemplo?

Quando as mulheres passam a criar grupos como o das “Executivas”, incomodam os homens. Para que possamos deixar de ser chamadas de “Clube da Luluzinha”, precisamos inseri-los. Só assim eles conseguirão entender a proposta do grupo. O que, na verdade, as mulheres estão querendo é criar networking, aprender todos os dias e discutir como as mulheres podem ter uma ascensão mais rápida na sociedade. Nada diferente do que eles fazem.

Após a palestra, Maria Teixeira visitou o PTI acompanhada de Margaret Groff e do superintendente Juan Carlos Sotuyo.

Por que esta ascensão demora tanto? É a falta de meta?

Uma delas é a meta. A maioria das empresas não define metas que incluem a mulher nos postos de decisões. O segundo são os modelos. Ainda há poucos modelos para as mulheres se espelharem e para querer chegar lá. É preciso querer, não basta ter uma boa formação.

As mulheres se especializam mais que homens. Isso ocorre porque elas precisam provar muito mais capacidade para ocupar o mesmo espaço deles?

Sim, ainda é uma realidade. Para provar que pode dar resultado, a mulher ainda precisa trabalhar mais, provar muito mais para ser aceita. Por enquanto trabalhamos mais, estudamos mais e fazemos muitos outros papeis. Por algum tempo continuará sendo assim. No momento que a sociedade tiver uma cultura mais de equidade, não será necessário tanto esforço.

Fonte: JIE

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