quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Energia de verdade e ilusão eólica, por Paulo Moreira Leite

A construção de Belo Monte produziu um debate que deve ser resolvido a partir de questões técnicas. Nenhum adversário da usina afirma que o Brasil não precisa da energia que ela vai gerar.

Argumenta-se que o Brasil poderia abrir mão de Belo Monte para empregar as fontes de energia sustentáveis. A mais lembrada é a energia eólica. Será mesmo?Essa alegação só se sustenta quando se confunde a potencia instalada e a energia efetivamente gerada por cada usina. Com potencia instalada de 1MW, uma usina nuclear terá capacidade de 85%. As usinas hídricas tem capacidade média de 55%, que será reduzido par 40-45% em função de considerações ambientais. Já o fator de capacidade nas eólicas no Brasil é inferior a 15%. Conforme dados oficiais, a capacidade de 2010 foi de 13%.
 
Autora do artigo que publicamos abaixo, engenheira eletricista Ruth Soares Alves, gerente de Planejamento Estratégico da Eletronuclear, explica: “o fator de capacidade faz toda a diferença. 
 
Comparar usinas com fatores tão díspares é no mínimo tendencioso. Eu não ficaria tranquila se algum parente meu estivesse num hospital alimentado eletricamente através de uma usina eólica sem o devido “back up” hidráulico ou térmico,” diz ela. Vamos ler o texto dela:

Comentários aos dados veiculados na imprensa sobre as usinas eólicas

A capacidade instalada fiscalizada em energia eólica no Brasil, segundo os dados oficiais da Agencia Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, é de 1.294 MW. Com tal capacidade foram gerados em 2010, 1471,57 GWh de energia elétrica que foi distribuída através do Sistema Interligado Nacional – SIN conforme informa o Operador Nacional do Sistema-ONS.

A capacidade instalada de uma usina representa seu dado de placa, ou seja, quanta energia ela pode gerar por hora de funcionamento se estiver ligada. Numa usina térmica no Brasil, a definição de quando uma usina é chamada a gerar energia depende do despacho do ONS que, entre outros fatores, considera o preço do combustível usado.

No caso das térmicas depende do preço do gás, do óleo, do urano enriquecido, ou de outro combustível usado. No caso das eólicas pressupõe-se que o vento tenha custo zero. Se o preço do combustível não é a questão, então o despacho de uma eólica fica condicionado principalmente à existência do vento ou ao estado de manutenção da usina.

Como o ano tem 8.760 horas, uma ou várias usinas com capacidade total de 1.294 MW teria condições de gerar até 11.338 GWh de energia elétrica. Por exemplo, a usina nuclear de Angra 2 (capacidade instalada de 1.350 MW) em 2010 gerou 10.280,81 GWh, mas poderia gerar até 11.826 GWh, mas não o fez porque precisa parar pelo menos para trocar combustível e também porque só é, normalmente despachada, em 80% da sua capacidade uma vez que primeiro vem as usinas de combustível mais barato, que são as hidrelétricas e eólicas (combustível a custo zero). Dividindo-se a energia gerada no ano pela capacidade da usina temos o fator de capacidade que representa a média do que ela realmente produziu. No caso da nuclear do exemplo este fator foi 0,8693 ou 86,93 %. Isto é equivalente a uma usina de 1.173,5 MW trabalhando a 100% do tempo.

No caso das eólicas brasileiras o mesmo fator vale 0,1298 ou 12,98 %. Isto significa que 1.294 MW de energia valem somente 167,96 MW a 100%.

Após estas considerações devemos pensar bem nas comparações que envolvem capacidade instalada como se fosse energia gerada. Uma usina com grande capacidade nem sempre atende as necessidades dos consumidores.

Não se pode também comparar custos destas capacidades instaladas porque as produções de energia podem ser absurdamente diferentes. É como se você comprasse dois pares de sapatos para andar 10 km com cada um. Com o primeiro par seria possível andar os 10 km (e até mais um pouco), mas com o segundo só 1.600 metros. É claro que eles não custariam o mesmo preço.

Fonte: Revista Época

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