terça-feira, 26 de outubro de 2010

Contra boatos, mentiras e factóides, por Aluízio Palmar

Nesses breves dias que antecedem a eleição para Presidente da República setores reacionários e alguns indivíduos alienados têm buscado desqualificar a candidata Dilma Roussef.

Passados vinte e cinco anos do começo do processo de redemocratização do País as sementes do ódio frutificam e explodem em sua plenitude, misturando a exploração dos preconceitos da classe média com o da religiosidade das classes mais simples.

É decepcionante a irresponsabilidade de quem ocupa cargo relevante, e que se julga líder político, ocupar o privilégio da Tribuna de uma instituição republicana para enxovalhar com mentiras a vida da candidata à Presidência da República. Decepcionante, porque eu julgava que este político de nossa comunidade não se prestaria a fazer o papel de repetidor de mentiras.
Acredito que esta pessoa está tomada pelo vírus da mediocridade quando acusa a candidata de ser assassina. É isso mesmo, esse político está contaminado pelo ódio, superstição e intolerância que envolve algumas camadas da sociedade.
Sou testemunha de que a Dilma nunca pegou em armas, e se o tivesse feito, sua atitude seria uma legítima atitude de enfrentamento á tirania e de luta para o restabelecimento das liberdades democráticas. Ousar lutar contra a tirania é uma virtude.    

Por isso e pelo meu histórico não posso me calar diante de tamanha infâmia provinda de alguém que usa um espaço republicano que lhe foi outurgado pela democracia para desancar alguém que lutou para lhe garantir este direito.

Conheço Dilma Rousseff desde nossos verdes anos na luta contra a ditadura. Éramos militantes da resistência democrática. Eu, recém saído da faculdade onde cursava Ciências Sociais e envolvido profundamente no combate. Morava às vezes em Niterói e outras vezes na cidade do Rio ou em São Paulo. Estava na luta clandestina, pois era perseguido pelos verdugos do regime tirano. Primeiro na Dissidência Comunista do PCB, depois no Movimento Revolucionário 8 de Outubro e mais tarde Vanguarda Popular Revolucionária, organizações da resistência à ditadura.

Já a Dilma, mineira de formação religiosa (ela estudou no Sion), vinha da Política Operária (Polop), mais tarde Comando de Libertação Nacional e posteriormente VAR Palmares. Nossas organizações tinham visão diferente sobre a forma de enfrentamento. Tanto o Oito como a VPR adotaram a guerrilha como tática para derrubar a ditadura, enquanto as organizações em que a Dilma militava defendiam o caminho dos movimentos de massas (passeatas, greves, mobilizações). Eu combatia a ditadura de armas na mão, já a Dilma estava envolvida na produção e distribuição de panfletos e articulação de greves e manifestações de massas. 

Em 1968, com o endurecimento do regime e o advento do Ato Institucional número 5, Dilma e o seu marido de então, o também militante Cláudio Galeno Linhares, mudaram para o Rio de Janeiro. Com o AI-5, o Congresso Nacional foi fechado, vereadores, prefeitos, deputados e senadores cassados, veio a censura à imprensa e as prisões aumentaram.

Eu tinha 26 anos quando fui preso em abril de 1969; Dilma foi presa em janeiro de 1970, aos 22 anos.

Igual a todos que ousaram enfrentar a tirania instalada em nosso País fomos torturados no pau-de-arara, recebemos choques elétricos e afogamentos. Somos sobreviventes de uma luta de muitos mortos e desaparecidos.

Eu saí da prisão graças a uma ação revolucionária levada a efeito por um comando da VPR e que trocou a minha liberdade e de outros 69 companheiros pela liberdade do Embaixador da Suíça no Brasil. Essa ação da resistência democrática livrou muita gente da tortura e da morte. Fui mandado para fora do Brasil, banido do território nacional, em um ato decretado pelo ditador de plantão general Garrastazu Médici.

Dilma saiu do cárcere em 1973 e foi morar em Porto Alegre, onde estudou, se formou e teve brilhante carreira profissional.

Eu voltei para o Brasil, ou melhor, emergi da clandestinidade, com a Anistia, em setembro de 1979. Vale dizer que depois de ser tirado da prisão pelos meus companheiros continuei no front da luta revolucionária.

Só me reencontrei com a Dilma na jornada de organização do trabalhismo liderado por Leonel Brizola. Era 1980 e lá estava ela, junto com seu segundo marido e meu amigo das boas e justas lutas, o advogado Carlos Franklin Araújo. Havíamos perdido a sigla PTB e organizávamos o PDT.
Foi a primeira reunião do Diretório Nacional, na velha sede da Rua Sete de Setembro, centro do Rio. Na ocasião encontrei uma Dilma politicamente amadurecida e com muita fé de que o nosso País estava prestes a encontrar o caminho da construção de uma sociedade socialmente justa, dentro de um processo de aprofundamento da democracia.

Hoje ela é candidata, não de si mesma, mas de um processo histórico que vem se arrastando desde a década de 50 e que foi interropido com a morte de Getúlio em 54 e com o golpe militar de 1964. Este processo histórico consiste de mudanças relevantes nas estruturas construídas com base nas desigualdades sociais e na exploração do homem pelo homem e nas superestruturas políticas e sociais que dão sustentação a esta sociedade injusta.   

Vem daí tanto ódio das classes dominantes, de seus ventríloquos e de seus órgãos de imprensa.

Um comentário:

  1. Olá, Joel
    Agradeço a leitura do meu blog. Acredito que diálogos positivos sempre são bem vindos. Não sou radical, tenho um posicionamento aberto, e acredito em uma política que leve o Brasil para um futuro promissor.

    Admito que o texto não está profundo mesmo. Sou admirador das políticas do PT, mas os constantes escândalos tem me deixado abalado.
    Abraços

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