Selo de Pró-Equidade de Raça e Gênero reconhece empresas que criam plano de ações para estimular a presença e valorização das mulheres e dos negros no ambiente de trabalho
A inserção justa e sem discriminações no mercado de trabalho ainda é uma grande dificuldade que as mulheres encontram em seu dia a dia. Dificuldades de alcançar cargos de chefia, passando pelo desafio de dividir responsabilidades com família e emprego, até diferenças de salário pesam no lugar de trabalho que a mulher ocupa.
Foi pensando em como mudar essa realidade que a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), do Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, criou o Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, uma iniciativa que identifica as empresas que prezam pela promoção de igualdade entre mulheres e homens no ambiente de trabalho.
Criado em 2005, o projeto que garante o Selo de Pró-Equidade de Raça e Gênero para empresas públicas e privadas chega nesta semana a sua sexta edição, com 124 empresas participantes. Para isso, a empresa se inscreve e deve fazer o seu próprio plano de ação, identificando quais pontos da organização de trabalho podem melhorar para as mulheres. Para a secretária de Políticas do Trabalho e Autonomia Econômica das Mulheres, Tatau Godinho, esse é o diferencial do projeto: criar na própria empresa a necessidade de se discutir os espaços da mulher no ambiente de trabalho e suas dificuldades.
“É um projeto que estimula a mudança da cultura organizacional nas empresas. Muitas vezes a discriminação não é uma coisa explícita. Ninguém diz ‘na minha empresa as mulheres não vão ser promovidas’. Mas, na prática, as promoções privilegiam mais os homens. Existem também relações de trabalhos que dificultam o cotidiano das mulheres, como a responsabilidade prioritária pelo cuidado familiar. É uma série de políticas para criar relações de trabalho mais favoráveis para ter um ambiente mais igualitário entre homens e mulheres”, explica.
Identificando essa necessidade especial da mulher em período de aleitamento materno, por exemplo, a Advocacia Geral da União (AGU) instalou uma sala de amamentação dentro do prédio, para dar mais conforto às mulheres neste período. No Banco do Brasil, por exemplo, as mulheres têm licença maternidade estendida. Além disso, o homem tem uma licença paternidade maior do que o previsto em legislação, garantindo que o homem também se envolva nos cuidados familiares. Para a secretária, atitudes como essa trazem “mudanças que vão além do espaço do trabalho e envolvem a sociedade como um todo”.
Chefia
Outro fator importante tem sido o número de mulheres ocupando cargos de chefias. A gerente geral da Agência Órgãos Federais do Banco do Brasil, Adriana Bueno Pinto, é uma das duas gerentes gerais da agência. Para ela, ações como incentivar o crescimento dentro da empresa, com as especificidades da mulher, resulta em um maior estímulo para o trabalho. “O banco procura valorizar a participação da mulher e a gente tem lidado com isso diariamente. É gratificante ser gerente e mulher e sinto que o banco nos valoriza em olhar diferente para a nossa condição de mulher”, conta.
A gerente de Relações do Trabalho dos Correios também considera grande a importância de mulheres ocuparem cargos de chefias. Mais do que isso, a gerente destaca que há poucas movimento de líderes femininas dentro das categorias trabalhadoras e que a empresa tem implementado ações para desenvolver essa liderança, além de promover orientações sobre racismo, violência de gênero e sexismo no trabalho.
“A partir dos estudos feitos para o Selo, nós percebemos que precisaríamos de estimular as lideranças femininas para a incluir mais as mulheres. Trata-se de liderança, mas com as especificidades das mulheres. No último período tratamos inclusive sobre a jornada feminina dupla e tripla. Nós reafirmamos o papel da mulher na sociedade no ambiente corporativo. É um processo difícil para a sociedade como todo, para uma empresa grande também. Porém, mais para frente tenho certeza que vamos colher o resultado de uma empresa mais inclusiva”, defende.
As empresas também lançam olhares para ações menores, mas não menos importantes. A Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, garante licença maternidade estendida para as funcionárias que se tornaram mães, além de diminuir a carga horário em época de amamentação e também oferece uma creche própria para seus funcionários. Mesmo em um campo com poucas mulheres, uma mudança deixou as funcionárias que trabalham no campo de pesquisa mais confortáveis: a mudança no uniforme da empresa.
A geóloga Loiane Rocha, que tinha o sonho de trabalhar com geologia desde criança, justifica que a mudança, mesmo pequena, tornou a pesquisa de campo mais agradável para as mulheres. “O trabalho é mais bruto, nós ficamos as vezes semanas no campo recolhendo material para pesquisa. A mulher tem suas especificidades no corpo e no seu funcionamento. Junto com as outras ações do plano, a empresa pensar nesses detalhes nos deixa mais incentivadas a fazer nosso trabalho”, diz.
Questão racial
A questão racial também conta para as empresas que participam do Programa. Na Embrapa Cerrado, a telefonista Rebeca Teixeira da Silva Barbosa é uma do grupo de funcionários que se autodeclarou como parda depois de ação da empresa para promover a autodeclaração de cor. Com a campanha e valorização das diferentes culturas etnicorraciais, 20% dos empregados tiveram sua cor alterada no cadastro. A maior alteração foram de 1065 empregados e empregadas que constavam como branco e se autodeclararam pardos. “O respeito no trabalho é muito importante para se sentir mais confortável. É ter certeza que vão me respeitar independente da minha cor”, explica Rebeca.
Fonte: Portal Brasil
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