terça-feira, 3 de novembro de 2015

‘Perdi a minha terra e muitas coisas da minha vida’, afirma refugiado iraquiano

Ex-funcionário da diplomacia do Iraque refaz vida em Brasília, onde ajuda conterrâneos a investirem no comércio da periferia da capital


Resultado de imagem para refugiadosNa loja com corredores espremidos por um sem-fim de bugigangas, que vão de bichos de pelúcia a utensílios domésticos, o idioma falado é uma mistura de árabe com português. A pronúncia arrastada do refugiado Hameed Jasim Humadi, contudo, não impediu o ex-funcionário do corpo diplomático do Iraque a se estabelecer como comerciante em Sobradinho, cidade-satélite a cerca de 20 quilômetros do centro de Brasília.
“Sentado na minha pequena casa, uma quitinete, eu pensei no que fazer da minha vida e decidi abrir uma pequena loja, onde trabalho todos os dias”, conta. 
Vivendo no Brasil com autorização do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), ele espera agora a liberação de um passaporte brasileiro para poder visitar a família, que não vê há 15 anos.
Ele tem direito a um passaporte especial do Brasil, mas precisa comprovar domínio na escrita em português. Este é o problema: Hameed fala no idioma brasileiro, mas não escreve como necessita.
A limitação tem como agravante o fato de que ele perdeu o passaporte iraquiano ao abandonar o serviço diplomático e, com ele, o direito de visitar a própria terra. “O passaporte para mim é a minha vida. Com ele eu posso viajar, ir na minha terra, vender a casa que tenho lá e ver minha família”, diz. 
Perdas
Hameed é um dos 250 iraquianos com autorização do Conare para viver no Brasil. Ele pediu refúgio após a chegada das tropas dos Estados Unidos ao Iraque, em 2003, para depor Saddam Hussein sob o argumento de que o ditador árabe detinha armas nucleares - o que não se confirmou. 
Até aquele ano, o Brasil devia ser o 33º país onde ele trabalharia como funcionário administrativo da embaixada do Iraque. A queda da Saddam levou Hameed a deixar o trabalho e a pedir refúgio no Brasil.
O iraquiano perdeu um filho no conflito. Mas o tema é delicado e ele prefere não avançar nesse assunto. “Perdi muitas coisas da minha vida, perdi a minha terra. Tenho saudade do meu país e fico triste, porque meu o Iraque já foi (destruído) por causa dessa guerra”, diz.
Hameed espera que o seu país possa ser visto no futuro com a mesma admiração que ele tem pelo Brasil. “O iraquiano tem coração muito bom, irmão. O iraquiano gosta da vida”, afirma. “Quando todo mundo fala que o Brasil é bonito, eu quero que todo mundo fale que o Iraque é muito bonito." 
Ganhos
O recomeço da vida no Brasil contou com a ajuda de brasileiros e árabes de países como Líbano, que vivem há mais tempo por aqui. Foram esses amigos que indicaram Hameed para um emprego em um hotel de Brasília, onde ficou um ano e três meses até conseguir juntar o dinheiro necessário para abrir a loja que ele batizou de "Shopping Habib". 
Hoje, o comerciante de Sobradinho ajuda outros iraquianos que buscam refúgio no Brasil. Aos poucos, Hameed cria um pequeno reduto de conterrâneos na periferia da capital federal. Entre eles, Rasin Mora, que se mudou para o Brasil com a mulher e sete filhos há um ano e meio. 
Rasin não fala português, mas conseguiu abrir um lava-rápido há quatro meses. No pequeno ponto onde cuida de até 12 carros nos dias de movimento intenso há a inscrição “A porta que Deus abre, o homem não fecha”. É lá que os filhos de Rasin ajudam o pai a lidar com a língua brasileira. 
Hussein, de 17 anos, é quem administra o negócio ao lado do pai. Ele ainda tem dificuldades com o português, mas uma namorada brasileira tem feito as vezes de professora particular.
Fonte: Portal Brasil

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