sexta-feira, 10 de abril de 2015

Memórias... atuais!

Em tempos de denuncismos, recuperei o texto de uma entrevista feita comigo para o informativo interno da Eletrosul, por ocasião da indicação da Senadora Gleisi para ocupar a função de Ministra Chefe da Casa Civil.
Reli com atenção, e não encontrei nenhuma vírgula a ser reparada no texto. Revela-se uma pessoa especial, com potencial transformador, o que pode explicar tantos ataques, afinal as mudanças que estão ocorrendo no Brasil não interessam aos bem estabelecidos.
Compartilho o material com os poucos seguidores deste blog, apelando para que compartilhem e reflitam, ou vice-versa.

Perfil Gleisi Hoffmann

1- Como foi trabalhar com ela?

Considero o período em que trabalhei com a Gleisi como de formação continuada, em todos os aspectos. Um aprendizado intenso de como conduzir os processos empresariais, observando e respeitando os valores individuais; de como se relacionar bem com as pessoas, mesmo na adversidade; de como trabalhar um dia inteiro sabendo exatamente o que deseja ter construído no final do expediente.

      
2- Qual o perfil administrativo dela?

A gestora Gleisi procura se cercar das pessoas com as competências necessárias para alcançar os objetivos propostos, ao mesmo tempo que não descuida do aprimoramento destas competências.
Pactua com a equipe os compromissos, delega e acompanha o desenvolvimento. Qualquer dúvida que surja, em qualquer momento, ela tem a resposta, pois para ela os objetivos são sempre muito claros.



3- Quais os principais valores que conduzem a forma de trabalhar?

Além da competência profissional, a Gleisi é uma pessoa muito espiritualizada que valoriza a vida na sua forma mais ampla. Esta combinação faz com que ela seja objetiva em suas decisões, sempre considerando o impacto que suas medidas terão em todos os níveis.
Creio que o principal valor que ela cultiva, é o respeito. Respeito aos seus colaboradores, aos seus iguais, aos superiores e, principalmente, respeito a ela mesma, ao seu projeto de vida e ao que busca construir.


4- Podemos dividir a administração de Itaipu antes e depois de Gleisi?

A Gleisi teve um papel importantíssimo na reorientação da atuação da Itaipu, a partir de 2003. Teve papel destacado no Planejamento Estratégico que definiu novos desafios para a empresa, que além de continuar gerando energia elétrica de qualidade, garantindo o abastecimento de 25% do mercado brasileiro naquela época, também passou a apoiar o desenvolvimento econômico regional, a desenvolver projetos na área ambiental e social.
Neste aspecto, que tem maior visibilidade e reconhecimento regional, a Gleisi ficou responsável pelos projetos sociais, criando programas que até hoje são referência até mesmo para o processo de integração do mercosul, tais como: saúde na fronteira, proteção aos direitos das crianças e adolescentes, incentivo à equidade de gênero, alfabetização de jovens e adultos, todos eles com inúmeras ações e, muitos, premiados pelos resultados alcançados.


5- Quais as mudanças que ela promoveu e implantou em Itaipu? Qual o seu legado?

Ela patrocinou alguns avanços no Acordo Coletivo de Trabalho, garantindo o direito às mães de acompanharem seus filhos ao médico; de serem dispensadas para irem ao colégio de seus filhos nas apresentações do dia das mães; do pai receber auxílio creche, que até então era pago apenas às mães. A implantação do horário móvel para que os empregados e empregadas possam levar e buscar os filhos na escola antes ou depois do trabalho, e, na vanguarda, a extensão dos benefícios da empresa aos casais homoafetivos.


6- Na área financeira, quais foram as transformações promovidas por ela?

Promoveu uma integração de pessoas e de processos.
De pessoas ao propor a eliminação das paredes, dando ela própria o exemplo ao abrir seu gabinete. Paralelo a isto promoveu o diálogo entre as equipes, levando os gerentes e participando ela própria das atividades. Se considerarmos que a Itaipu é uma empresa da área técnica, criada no modelo militar, com uma hierarquia muito severa, podemos considerar o impacto que esta iniciativa causou.
De processos ao propor a instalação de um sistema integrado de gestão, o que a empresa não tinha ainda, constituindo-se em pequenos feudos com as possessões definidas, tornando praticamente impossível uma visão integral por parte da diretoria
. A instalação do sistema integrado de gestão modernizou e dinamizou a empresa, ao mesmo tempo que atendeu as determinações da Lei SOX que estabelece as melhores práticas administrativas.


7- Por ser a primeira mulher a ser diretora de Itaipu, isso gerou algum estranhamento dentro da diretoria?

A Itaipu é uma empresa onde predominam os profissionais do sexo masculino, além de uma cultura herdada do período da construção onde a hierarquia era determinante do sucesso. Neste cenário a chegada de uma diretora de fala mansa, sorridente, simpática, não gerou muita confiança, porém esta impressão mudou rapidamente com o início dos trabalhos. A diretora continuou falando manso, sorridente e simpática, mas sua determinação e, principalmente, os resultados de sua atuação não deixaram dúvidas de que ela não estava ali para brincadeira.


8- Como gestora era muito política? E como política o perfil é mais de gestora?

As qualidades políticas da Gleisi foram importantíssimas na Itaipu, onde cada diretor só tem meia caneta, pois a outra metade está nas mãos do seu par paraguaio. O caráter binacional da Itaipu exige negociações para tudo, em um processo permanente. Então podemos dizer que o sucesso da gestora na Itaipu se deveu, em grande parte, às suas habilidades políticas.
A Gleisi política se aproveita da sua experiência de gestão, sendo minuciosa no planejamento das campanhas, do mandato, estabelecendo metas, delegando atribuições, mobilizando todos os recursos que estiverem ao seu alcance, criando mecanismos de acompanhamento, em suma, uma profissional completa.


9- Ela prefere ressaltar as qualidades do diálogo para se chegar a conclusões. Como se davam os diálogos dentro da Itaipu?

Quando assumiu a diretoria financeira uma das primeiras medidas que tomou foi promover diálogos entre os empregados das diversas áreas, para que se conhecessem melhor e soubessem exatamente o que o outro faz.
De imediato reduziram as reclamações internas, principalmente entre áreas, pois o diálogo aproxima as pessoas, faz com que saibam uma das outras e se entendam melhor. Só fui entender esta estratégia dela alguns anos depois, analisando os resultados.
Em qualquer dificuldade de entendimento ela convocava uma reunião, ouvia todos e ao final tinha uma síntese que contemplava todas as posições. De início eu acreditava que ela tinha conversado com cada um individualmente antes e, com tempo, feito uma análise da situação, mas depois, como chefe de gabinete dela , me convenci desta rara capacidade de, em tempo real, processar as informações e tirar as melhores conclusões.    


10- Para uns o perfil “trator” para outros o perfil “mãe”. Como definir Gleisi Hoffman profissionalmente?

Posso dizer que tive o privilégio de conhecê-la bem, e posso explicar o equívoco de considera-la “trator” ou “mãe”. A Gleisi tem profundo respeito às pessoas, e orienta sua atuação, onde quer que esteja, para a defesa dos direitos humanos, para a garantia de uma vida digna a todos e todas, o que faz com que alguns a vejam como protetora, daí a mãe. Por outro lado, suas convicções pessoais aliada ao seu preparo profissional fazem com que ela seja firme na defesa do que acredita, sempre com elementos e argumentações difíceis de serem refutados, daí o trator.
Na verdade ela não protege ninguém, ela defende direitos individuais, coletivos e difusos, da mesma forma. Também não atropela ninguém, apenas se coloca com firmeza, coerência e competência. E se o oponente não estiver preparado, melhor sair da frente. 


11- E pessoalmente, como defini-la?

Uma pessoa extremamente agradável, sempre uma fonte de energia positiva, comprometida com a família, zelosa de suas obrigações mas sempre tendo claro quais são as prioridades: Paulo, João e Gabriela.
Companheira nos momentos difíceis, franca e verdadeira nas relações de amizade. Cuidado ao pedir um conselho.


12- Se você tivesse que puxar assunto com ela, como começaria a conversa?

Oi Gleisi, tudo bem? Com isto ela vai te olhar, abrir um sorriso, e você se sentirá plenamente confortável para falar o que quiser.


13-  Alguma lembrança especial ou fato curioso que possa nos contar?
Tenho uma lembrança que compartilho para desmistificar um pouco a imagem da Ministra, e também do Ministro. Logo que assumiu a diretoria da Itaipu, precisei falar com ela em um domingo, no final da tarde, sendo convidado a ir até sua casa. Lá chegando encontrei a família fazendo um lanche, a diretora, o então deputado, comendo pão d’água com mortadela e uma xícara de café com leite. Gente como a gente, com funções importantes.


14- Na sua opinião, como será o mandato dela como Ministra Chefe da Casa Civil?

Não tenho dúvida do sucesso pois, como em Itaipu, usará de sua competência como gestora no acompanhamento dos projetos do Governo Federal, e também de suas habilidades políticas na relação com os demais Ministérios, Secretarias etc.
A Presidente Dilma poderá continuar a dormir tranquila, ao seu lado tem uma pessoa comprometida, honrada e perseverante nos seus propósitos.

Joel de Lima, advogado, ex-chefe de gabinete da diretora financeira executiva da Itaipu, atual chefe de gabinete do Diretor Geral Brasileiro da Itaipu.

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