OBSERVAÇÕES SOBRE O PLANO DE INVESTIMENTOS EM RODOVIAS E
FERROVIAS E O POSICIONAMENTO DO PARANÁ
Por Paulo Bernardo
O
pacote de concessões de rodovias e de ferrovias lançado pelo Governo Federal
nesta semana causou reações desencontradas dentro e fora do Governo do Estado.
Para o presidente do Ipardes, Gilmar Mendes Lourenço, em artigo publicado na
Gazeta, trata-se de "Muito barulho para poucas medidas". Segundo ele, "emerge a
pequenez do montante de recursos a ser aportado, representando 0,4% do PIB a.a.
em um quinquênio, e 0,1% do PIB a.a".
Já
o secretário de Infraestrutura, José Richa Filho, reclama de discriminação
contra o Paraná, onde poucos investimentos seriam realizados. Ainda na Gazeta,
técnicos e empresários apontam a possibilidade de o pacote vir a desviar cargas
de Paranaguá, por prever ferrovias mais modernas e com capacidade maior de
transporte, com menores custos, acrescido do fato de não se conectarem às linhas
da Ferroeste e da ALL no Estado.
Basta um rápida olhada nos jornais desta semana para verificar que
especialistas das mais variadas tendências econômicas e políticas comemoram o
conjunto de investimentos selecionados como um excelente passo, já que a
presidenta Dilma ainda anunciará as medidas para os portos e os aeroportos
brasileiros, ainda entre agosto e setembro. Acrescento que o Plano de Logística
Integrada tem grande capacidade de catalisar e alavancas outros investimentos
industriais comerciais e no agronegócio.
Por
exemplo, a produção agropecuária do Centro-Oeste e de regiões de expansão como o
oeste baiano ou a chamada Mapito (de Maranhão, Piauí e Tocantins) receberão
enorme impulso justamente por conta da solução dos problemas de logística que
represam o crescimento da produção por lá. Lembro que o Plano é integrado e
portanto os investimentos em portos e em aeroportos compõem o
conjunto, destinado essencialmente a baratear o chamado custo Brasil (e o
barateamento das tarifas de energia vão completar o conjunto) e estimular a
produção e o crescimento para além do que supõe o presidente do nosso importante
Ipardes.
Sobre o temor de que o pacote anunciado reduza a importância
relativa de Paranaguá, quero dizer que concordo. É por isso que o governo
federal mandou realizar Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica para avaliar a
inclusão da ferrovia de Maracaju-MS a Paranaguá. Esse tema foi debatido no
governo nos últimos anos e há disposição para fazer o investimento. Mas é
preciso fazê-lo nos moldes das novas ferrovias que estamos construindo, com
bitola larga, trajeto que permita tráfego rápido e uma coisa importante: é
preciso achar solução que permita fazer o trecho para transpor a Serra do Mar.
Do contrário, teríamos uma ferrovia moderna com um gargalo quase intransponível
antes de chegar ao porto. Esse investimento, se viabilizado, exigirá
investimentos em ampliação da capacidade e em melhor gestão no nosso porto.
Vontade política por parte do governo federal já existe. Mas
outras condições precisam ser atendidas. Nesses sete anos e meio em que exercito
cargo no Planejamento e agora nas Comunicações, tenho acompanhado atentamente
todo esse debate e sou franco em dizer: não encontramos no governo estadual a
contrapartida para a boa vontade dos presidentes Lula e Dilma em apoiar projetos
no Paraná.
Em
2003, tínhamos no Orçamento Federal R$ 220 milhões para ampliação do Porto de
Paranaguá. O governador resolveu cancelar o processo e reiniciar, com nova
licitação. Já sabemos o resultado: nada aconteceu desde então. Lançamos um
programa federal de dragagem para 14 grandes portos. Paranaguá estava incluído.
Por insistência do governo do Estado, a então ministra Dilma concordou em
repassar para o Estado os recursos e licitamos os outros empreendimentos.
Resultado: treze portos ganharam o beneficio da dragagem e em Paranaguá, apenas
um rumoroso processo policial, com prisões e processos.
No
caso da ferrovia, tentamos durante vários anos resolver a situação que chega a
ser ridícula, dessa Ferroeste e não conseguimos. O governador do Estado
solicitou R$ 573 milhões para fazer a obra do ramal ferroviário, o governo
federal concordou e incluiu no PAC. Já em final de mandato, sentindo-se ameaçado
em seus planos eleitorais, lançou "denuncia" de maracutaia e o governo federal
retirou do PAC os R$ 573 milhões. Como resultado, o ex-governador já levou multa
de R$ 200 mil, sofreu condenação em processo para indenização e é réu em
processo criminal no STF. Quanto à ferrovia, ainda estamos na fase de
reivindicar e reclamar.
Então, pergunto: quem diminuiu a importância do nosso porto? Quem
desviou cargas para Santos e os portos de Santa Catarina e do Rio Grande? Numa
ocasião, perdi a paciência e repeti brincadeira que ouvira, dizendo que tínhamos
no Paraná o melhor governador, para Santa Catarina.
Se
o leitor está achando que é revanchismo, garanto que está enganado. Antes mesmo
da posse do atual governador, Beto Richa, conversei com ele e reafirmei
disposição para ajudar o nosso Estado. Questões partidárias ou eleitorais não
podem se sobrepor aos interesses maiores do Paraná.
Mas
é preciso que o Estado também faça sua parte. Impossível ajudar sem projetos
concretos ou ao menos estudos consistentes de viabilidade técnica e econômica.
Sabemos que o governo está no início, não deve ter encontrado boas condições
para tocar investimentos, mas é preciso avançar. Registro que o governador Beto
Richa tem atitude cordial e entende a importância do diálogo institucional.
Há
casos em que, mesmo com recursos assegurados, o investimento pode não ocorrer.
Espero que não seja o caso do Metro, em Curitiba, que negociamos, tanto eu
quanto a ministra Gleisi Hoffmann, com o então prefeito Beto Richa e depois com
Luciano Ducci. Convencida da importância da obra para a nossa capital, a
presidenta Dilma viajou a Curitiba e anunciou a liberação de R$ 1 bilhão do
orçamento federal e financiamento de R$ 750 milhões para o Metro. Assegurados os
recursos, é a vez da prefeitura de Curitiba completar a elaboração do edital e
fazer a licitação da obra.
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