segunda-feira, 30 de agosto de 2010

“Infância perdida”: 19 países debatem em Foz acolhimento a crianças abandonadas

Medo, insegurança, baixo auto-estima e falta de afetividade são alguns dos principais sintomas apresentados por crianças abandonadas ou retiradas de suas famílias de origem. Só no Brasil, o problema atinge 8 milhões de pessoas na infância e na adolescência. Como protegê-las e amenizar as sequelas do abandono? O tema estará em debate em Foz do Iguaçu, de 2 a 4 de setembro, no Seminário Latino-Americano de Acolhimento Familiar.

O evento faz parte da programação oficial da visita do presidente Lula à fronteira e deve reunir mais de 600 representantes de instituições de proteção à criança e ao adolescente de 19 países. No seminário promovido pela Rede de Proteção Latino-Americano de Acolhimento Familiar (Relaf), os participantes terão a oportunidade de apresentar e conhecer experiências bem sucedidas de acolhimento. A ideia é debater esses projetos e replicá-los em todo o continente.

“O melhor local para criar uma criança é na família biológica, desde que essa convivência seja sadia”, explica Ivânia Ferronato, diretora de projetos da Fundação Nosso Lar, de Foz do Iguaçu. “Quando isso não é possível”, acrescenta, “o modelo da família acolhedora é o melhor sistema”.

E como esse modelo funciona na prática? Família Acolhedora é um programa do governo federal que tem foco na proteção integral de crianças e adolescentes em situação de risco. Em vez de serem encaminhados para instituições como abrigos, eles são afastados temporariamente de suas famílias biológicas e acolhidos por outra família, até que haja condições de voltarem para casa.

Para isso, durante esse período, a família de origem deve ser acompanhada por psicólogos e assistentes sociais. Das 130 crianças e adolescentes que vivem longe de suas famílias de origem, em Foz, apenas cinco moram com famílias acolhedoras. As demais estão em abrigos e casas-lares.

Sede da Fundação Nosso Lar , em Foz do Iguaçu.

Segundo Ivânia, esses dados reforçam a urgência de encontrar uma forma eficiente de recuperar a família e evitar o abandono de crianças e adolescentes”. Ela conta que uma vez foi questionada por um adolescente chamado Luan, de 13 anos:
- Por que vocês não pagam para minha mãe me cuidar, ao invés de pagar para uma mãe social fazer isso? Ela me abandonou porque precisava trabalhar para ganhar dinheiro.
“Foi um depoimento impactante”, diz Ivânia.


Ivânia, Aline Albuquerque (coordenadora de eventos da Fundação Nosso Lar) e Mirtha Baez, de Itaipu: discutindo detalhes do encontro da Relaf.

A diretora da Fundação Nosso Lar acredita que o Relaf poderá dar uma resposta ao questionamento do adolescente.

De janeiro até julho deste ano, o Conselho Tutelar de Foz do Iguaçu recebeu e prestou atendimento a 3.042 crianças. Os casos retratam todo tipo de violação: meninos e meninas fora da escola, abandonados dentro de casa e que sofreram agressões, entre outras formas de omissão da família.

Sonho da adoção

A historiadora Franciele, hoje com 27 anos, ficou órfã aos 13. Ela e quatro irmãos mais novos foram levados para um abrigo. "Os anos no orfanato foram longos e sofridos", contou ao JIE. Sua vida só mudou quando foi acolhida por duas irmãs.

“Elas são a minha família. Sou uma pessoa feliz, mas superar as sequelas do abrigo não foi fácil. Lá, a gente divide tudo: de brinquedos até roupas íntimas. Ninguém é dono de nada”.

Mesmo feliz por ter sido acolhida por duas irmãs, o sonho dela era mesmo ter sido adotada. “Minha mãe tinha morrido e eu queria uma nova mãe. Só desisti quando completei 18 anos”.

Dos quatros irmãos de Franciele, Rafaela, de 15 anos, vive com uma família acolhedora em Foz. Os outros três não tiveram a mesma sorte.

O Relaf é tradicionalmente realizado em Buenos Aires, capital da Argentina. Este ano, os trabalhos desenvolvidos na região em defesa dos direitos da criança e do adolescente foram fundamentais para a escolha de Foz para sediar o evento.

Apoio

O seminário conta com apoio de Itaipu, dos governos federal e estadual, da prefeitura de Foz do Iguaçu, do Parque Tecnológico Itaipu, da Universidade Federal de Integração Latino-Americana (Unila) e do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente (Cedca-PR). E ainda de instituições internacionais como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a Fundação Kinderpostzegels, a Child Helpline International, Hague Conference on Private International Law e a International Social Service.

Itaipu

Pioneira em atividades de prevenção e combate à exploração infanto-juvenil, Itaipu faz parte da Rede Proteger, que reúne representantes de 30 instituições em defesa da criança. Esses representantes se reúnem mensalmente para definir e desenvolver ações preventivas e de proteção para jovens em situação de risco. Na sexta-feira, dia 27, eles acertaram os últimos detalhes do seminário da Relaf em Foz.

Meninos do Lago

Meninos do Lago: treino diário no Canal Itaipu para disputar as Olimpíadas.

Dentro da filosofia de garantir os direitos de crianças e adolescentes em situação de risco, Itaipu criou e mantém o Projeto Meninos do Lago, uma parceria com a Federação Paranaense de Canoagem. O projeto está preparando 80 meninos pobres para disputar as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Eles treinam diariamente no Canal de Itaipu.

Outra iniciativa que está dando certo é o Projeto “Plugado!”, uma parceria com a Casa do Teatro que está beneficiando 40 adolescentes de 10 escolas públicas de regiões pobres de Foz do Iguaçu. A maioria desses bairros apresenta incidência de risco social, violação ou desrespeito aos direitos da juventude.

Esses estudantes recebem R$ 100 por mês para desenvolverem atividades de agente cultural nas escolas estaduais. O trabalho é replicado em oficinas para outros 400 alunos. Outro ponto positivo apontado pela Relaf é a localização estratégica da cidade que fica na região da tríplice fronteira.

Fonte: JIE

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