Embora
tenha durado apenas o tempo de uma flor de manacá, a exposição do
aumento dos índices de IDHM dos municípios do Brasil na mídia precisa
ser recuperada.
Talvez tenha sido a notícia mais importante do ano para os analistas
que procuram olhar o Brasil sob a ótica das mudanças estruturais de
nossa sociedade.
Os
números são impressionantes e mostram um país que passa de uma posição
vergonhosa no campo de desenvolvimento social para a companhia de
sociedades
mais justas e ricas. Mas essas informações entram em choque com o clima
de que estamos próximos de um desastre e que tomou conta de boa parte
dos agentes econômicos -empresários e financistas- nos últimos meses.
Não
é possível que uma economia que fez com que a renda média real da
sociedade dobrasse em 17 anos esteja à beira do abismo, mesmo que os
resultados
nos últimos três anos sejam decepcionantes.
Em 1993, a renda média anual do brasileiro era -a valores reais de 2012- de R$ 5.016,00, equivalentes ao câmbio também de 2012 a
US$ 2.500. Em 2010, 17 anos depois, esse número atingiu R$ 10.884,00, ou seja, próximo de US$ 5.500. Um aumento de mais de 100% no período, o que corresponde a uma taxa anual composta de 4,7%.
Mesmo
se tomarmos como base a renda média de 1994, início do período do real,
os números chamam a nossa atenção. Nesses 16 anos, entre o início do
período
de estabilidade de nossa moeda e o fim do ciclo de crescimento em 2010,
o aumento real da renda média do brasileiro chegou a 64%, ou seja,
cresceu a uma taxa anual de 3,14%.
Todo
economista sabe -ou deveria saber- que o fator mais importante por trás
das mudanças sociais é o crescimento econômico por um prazo longo.
Importa
menos a taxa anual de crescimento e mais a duração do período em que
esse crescimento se sustenta.
Uma
segunda verdade em que acredito é a que nos diz que o principal -e mais
difícil- fator por trás do crescimento econômico sustentado é o aumento
da
renda real das famílias. Isso é verdade principalmente em uma sociedade
de cigarras como a nossa, em que o consumo representa mais de 2/3 do
PIB (Produto Interno Bruto).
Por
isso, os dados do Pnud da ONU, publicados recentemente, não
surpreenderam a equipe de economistas da Quest Investimentos. Afinal, o
quadro inicial
das apresentações institucionais aos nossos clientes, desde 2007,
apresenta um gráfico da renda real calculada pelo IBGE entre 1978 e 2013
e mostra, por meio de uma linha de tendência, seu comportamento nesse
período.
Em
1979, último ano do milagre econômico dos militares, a renda real anual
era de R$ 7.464,00. Em 1993, fim do período em que tivemos uma
hiperinflação
histórica, o brasileiro médio ganhava anualmente apenas R$ 5.016,00. Ou
seja, uma queda de mais 30% em 14 anos. Podemos contar essa mesma
terrível história dizendo que, nesse período negro, o brasileiro
empobreceu em média mais de 2% ao ano.
A
mais importante consequência desse longo período de crescimento que
tivemos depois do Plano Real pode ser vista -a olho nu- em uma
fotografia da sociedade
brasileira dividida em classes de renda. Ela também faz parte, desde
2006, das apresentações da Quest como um de seus pontos centrais.
Para
chegar a ela, dividimos os brasileiros em apenas duas classes de renda:
na primeira estão aqueles que estão inseridos na economia de mercado,
ou
seja, têm carteira de trabalho assinada, acesso a crédito bancário e no
comércio e estão protegidos por programas sociais como aposentadoria,
seguro-desemprego e outros que não o Bolsa Família.
Na outra classe, estão os brasileiros que vivem na informalidade e não têm acesso às instituições do mundo formal.
Em
1993, os brasileiros da classe formal representavam um terço da
população, ficando o grupo informal com os outros dois terços. Hoje
temos a situação
oposta, ou seja, dois terços vivem no mundo formal e o outro terço no
informal. Uma mudança extraordinária e muito difícil de ser encontrada
na história das nações emergentes como a nossa.
Peço agora ao leitor que volte ao título desta coluna.
Luiz Carlos Mendonça de Barros é engenheiro e economista, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações (governo FHC). É sócio e editor do site de economia e política 'Primeira Leitura'. Escreve às sextas, a cada duas semanas, no caderno 'Mercado'.
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