segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A banca banca Dilma (e Lula), por Clovis Rossi

DAVOS - O velho sábio que habitava esta Folha costumava repetir sempre que vivera o suficiente para ver tudo acontecer e o seu contrário também.

Pois é, estou chegando ao mesmo ponto. Ou já cheguei, do que me dei conta anteontem à noite ao conversar com William Rhodes, hoje conselheiro-sênior do grupo Citi, e ouvir sua animação com o Brasil.

Apresento Rhodes para as jovens gerações: foi o grande ogro da América Latina, nos anos duros de renegociação da dívida externa, como um dos líderes, o principal aliás, do comitê dos credores.

Uma vez, almocei com ele na sede de Nova York do Citi. Ouvi um verdadeiro sermão sobre como deveríamos nos comportar os latino-americanos, incluídos os governantes, com os quais eu nada tinha a ver. Nem gostava, aliás.

Pois bem, agora, o próprio Rhodes me conta um caso absolutamente oposto: diz que, em recente encontro com o então presidente Lula, com a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, este lhe disse que os Estados Unidos é que deveriam cuidar de sua dívida, que chegou a um ponto explosivo.

Não creio que Mantega tenha feito um sermão. É um tipo suave. Mas a ironia cabe e mostra como o Brasil mudou -e, com ele, grande parte da América Latina.

Rhodes se tornou um entusiasta de Lula, a ponto de, em 2005, ter afirmado aqui mesmo em Davos: "A implementação de seu programa econômico é um bom exemplo para o mundo".

Quando um banqueiro vê em um ex-sindicalista -que era o terror da burguesia- "um exemplo para o mundo", só posso mesmo achar que já vi tudo acontecer e seu contrário também.

Ainda mais que Rhodes cobrou ontem, brincando, o texto que fiz em 2005 com seu entusiasmo, mas não deixou de acrescentar: "Estou muito otimista" [com Dilma].

Fonte: Folha de S. Paulo - Opinião

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