Ministro do Planejamento desde março de 2005, Paulo Bernardo afirma que a divisão de interesses e a autofagia prejudicam o Paraná. Segundo ele, esse é o motivo por que o estado tenha sido representado apenas por 18 ministros na administração federal desde o século 19. Sobre a possibilidade de permanecer na Esplanada a partir de 2011, brincou: “Só Deus e a Dilma sabem”.
O senhor é o representante da política do Paraná que mais tempo permanece em um ministério desde a emancipação do estado, em 1853. Qual o motivo dessa longevidade?
Provavelmente porque este não é um ministério que desperta muita cobiça (risos). As pessoas não querem ficar aqui falando que não e não para todos os pedidos de liberação de recursos. Bom, é claro que eu estou brincando... Eu acho que o governo Lula se caracterizou por uma política muito estável na área econômica. Se você for ver, o Henrique Meirelles vai completar oito anos no governo e o Ministério da Fazenda só sofreu alteração porque houve um problema com o Antonio Palocci [o escândalo envolvendo o caseiro Francenildo Costa]. Aqui no Planejamento só houve uma mudança porque o presidente resolveu mandar o Guido Mantega para o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]. O nosso mérito foi ter aprendido a ver o que o presidente tinha como prioridade e expressar isso em termos de orçamento e políticas públicas. Acho que estou aqui há tanto tempo porque houve uma afinidade com o presidente.
Como o senhor avalia historicamente a participação paranaense na administração federal?
É pouca. Principalmente se você olhar a importância que tem o estado. Por outro lado, isso mostra que nós temos problemas a ser enfrentados. O Paraná é um estado dividido. Fala-se muito em autofagia. Nós não temos totalmente claro qual é a causa paranista. O Paraná era a quinta comarca de São Paulo. Já faz mais de 150 anos que deixamos de ser, mas mantemos um vínculo muito grande com os paulistas. Isso de certa forma joga uma sombra sobre a gente.
Qual o peso do critério regional na nomeação de ministros?
É razoável que o ministério seja composto por gente de todas as regiões. Isso ajuda o presidente a enxergar melhor o país, ter uma visão que não seja meramente a que se tem de Brasília. A tendência aqui é enxergar todos os estados do mesmo jeito. Só que claramente eles não são. É necessário compreender o desenvolvimento regional e, dentro dele, o estadual. Se você pegar a Região Sul, há diferenças evidentes entre Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Os gaúchos têm uma tradição de afirmação e de unidade mais forte, apesar de toda polarização política que existe por lá. É interessante observar isso.
Economicamente o Paraná está ombro a ombro com o Rio Grande do Sul, mas tem uma representação nacional muito menor. Como fazer para superar a autofagia paranaense?
Eu diria que nós temos inclusive mais potencial que o Rio Grande do Sul. Se você olhar os últimos 20 anos, os gaúchos tiveram um desenvolvimento muito inferior ao nosso. Nossa situação é mais cômoda, a metade sul do Rio Grande do Sul sofreu um processo de empobrecimento enorme. Acho que o Paraná primeiro precisa definir um projeto. Precisa haver um mínimo de consenso em torno do qual todos empurrem em uma direção. Não podemos achar que vamos suprimir as brigas políticas, nem mesmo a polarização entre as regiões de estado, mas há a carência de um projeto comum. Por exemplo: o Paraná precisa aproveitar a onda de investimentos que serão gerados pela exploração do pré-sal. Teremos de produzir navios, plataformas, sondas, navios-rebocadores, enfim, uma infinidade de coisas. São oportunidades que o estado não pode desperdiçar.
Como ministro do Planejamento, o senhor sofre todo tipo de pressão de interesse regional por recursos. Qual a diferença da organização do Paraná para apresentar os seus projetos e outros estados?
Eu já falei isso uma vez, deu briga, e tem até processo na Justiça pelo que eu disse: tem estados que vêm aqui discutir com governador, senadores, deputados. Não só no Planejamento, mas também na Fazenda, na Petrobras. O Paraná tem que fazer isso. A mobilização tem que passar por um esforço conjunto. É uma verdade: ainda não conseguimos fazer isso. Espero que o Beto Richa faça isso. O Orlando Pessuti está tentando fazer, mas tem pouco tempo. É um trabalho que depende de firmeza e persistência. É um desafio: se as lideranças se unem, você também consegue mobilizar a sociedade.
Apesar dos dois ministros paranaenses, Dilma perdeu para Serra no estado. Por quê?
Acho que é por causa da influência de São Paulo sobre o Paraná. Há também o fenômeno inegável de que o PSDB se transformou em um partido de maior prestígio entre as classes média e alta. Eles preferem o PSDB e as camadas mais populares votaram no Lula e agora na Dilma. É algo que pesou para o resultado final em Curitiba e no Paraná. Acho também que nós não conseguimos uma aproximação com os setores ligados ao agronegócio, que são importantíssimos no estado, embora tenhamos feito muita coisa para isso. Nós reestruturamos toda a dívida agropecuária, reduzimos os juros para o setor, estamos investindo em infraestrutura. Nesta eleição, fiquei sabendo que o Osmar Dias, que é um cara de dentro das cooperativas, sofreu muitas restrições no meio porque se aliou ao PT. Você fazer isso com um sujeito como o Osmar Dias, que é quase uma babá das cooperativas aqui em Brasília, é um negócio sério. Aí já é um problema ideológico. Mas a eleição já acabou, agora é tocar a vida para frente.
Como será o relacionamento entre Beto e Dilma?
Excelente. Se você olhar o que aconteceu durante os oito anos do governo Lula, houve algum problema com qualquer governador? A rigor, com nenhum. O Serra estava toda hora aqui. O Rodoanel, que foi a maior obra dele, teve R$ 1,2 bilhão do orçamento federal. O Beto Richa, enquanto prefeito da capital, foi tratado aqui com toda civilidade. Nós liberamos muito dinheiro para ele. Se bater saneamento e habitação, dá mais de R$ 1,2 bilhão. Nós não temos interesse em nenhum tipo de problema.
E qual vai ser a diferença entre o governo Lula e Dilma?
Vai ser um governo de continuidade. O que não quer dizer que vai ser igual. A Dilma é diferente do Lula, tem história, cabeça e formação diferentes. Ela pode ter até prioridades diferentes. A Dilma vai continuar o eixo do governo, porque ela participou de tudo o que está aí, mas deve priorizar uma ou outra coisa. É normal.
O senhor fica no governo?
Só Deus e a Dilma sabem. E acho que ela não sabe ainda porque não teve tempo para pensar sobre isso.
Se convidado, fica?
Só se ela disser que eu tenho que ficar (risos). É claro que estou à disposição. Duvido de que ela tenha escolhido um ministro que seja.
Há especulações de que o senhor pode continuar no Planejamento, ir para a Casa Civil ou para o Desenvolvimento Social.
Eu até já liguei para a Márcia Lopes [ministra do Desenvolvimento Social] e brinquei que tinha gente falando que eu iria para o lugar dela. O negócio é que a imprensa tem a preocupação em não perder a notícia. Jornalista quer antecipar os fatos. O que eu sei foi o que o presidente falou para mim: dia 31 de dezembro está todo mundo demitido. É até bom porque assim parece que todo mundo tem emprego até lá.
Mas o senhor tem proximidade com a Dilma, é nome quase certo, não?
A primeira coisa: ela tem que fazer mudança. Se ela mantiver os mesmos, será o ministério do Lula e não da Dilma. Ela tem que ajustar do jeito que achar melhor. Não dá para ficar nessa ansiedade toda.
Fonte: Gazeta do Povo
Foto: Valter Campanato
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